quarta-feira, 21 de maio de 2014

Sentir-se feliz dá trabalho


Felicidade e labuta aparentemente são palavras que não combinam no imaginário da sociedade atual tal qual ela tem difundido o conceito de felicidade. Mas felicidade, ou melhor, sentir-se bem, não se conquista sem labuta, ao contrário do hedonismo atual, que incentiva o prazer pelo prazer, sem conquista, sem labuta, sem dor ou sofrimento, e sem a existência do outro. Será que isso é felicidade mesmo ou serão apenas "caprichos" satisfeitos que por fim resultam em vazio? Ou uma busca desenfreada por sentir-se bem, mas como não se sabe o que é sentir nem se sabe o que buscar, tenta-se de tudo?
Vamos ao princípio: nascemos desamparados, se não cuidarem de nós, simplesmente morremos. É fato! Somos dependentes de um outro que nos alimente, nos conforte, nos dê carinho e que nos agasalhe. Sabem aquelas gracinhas de criança, aqueles sorrisinhos, aquela aprovação constantemente solicitada, que nos conquistam tanto, é uma maneira desenvolvida pela criança para envolver o outro, não perdê-lo, alguém do qual depende e a quem se apegou. Há um investimento nisso, a criança trabalha "duro" para ter a segurança do amor e de sua sobrevivência, ao mesmo tempo que está em desenvolvimento, descobrindo o mundo. Nessa etapa é como se a criança "soubesse" o quer e o que precisa, e se esforça para conquistar e manter esse algo e esse alguém. Vejam só quanta labuta, desde muito cedo, afinal ser bebê não é só dormir, mamar, ser trocado e banhado é também conquistar, aprender, desenvolver, enfim, crescer. Sempre coloco que vida de bebezinho também não é fácil, afinal às vezes a comida não chega quando está com fome, muitas vezes está brincando, lá no seu mundinho, e é interrompido porque alguém acha que está na hora trocar a fralda ou dar banho. Quando os dentes estão estourando a gengiva dói, o sono não fica tão bom, muitas vezes interfere na alimentação, tem um pouco de febre. E quando vai tirar a fralda, então ... o bebê tá lá, na boa, brincando, e o adulto vem e fala: vamos fazer xixi, o põe no penico e ele tem que aprender a se virar sozinho. Era tão mais fácil com fralda, sentia vontade, fazia xixi, e agora, tem que parar o que está fazendo para ir ao penico. Mas faz parte do crescimento, então aos poucos vai incorporando isso, se esforça. Aprende a mudar sua rotina, a adquirir novos hábitos. Vai dizer que isso não dá trabalho? E a sociedade atual está infundindo nos adultos que ser feliz é ter tudo o que quer, e tudo o que consegue comprar, gozar sempre que transa, não se envolver, já que o gozo é mais importante que uma relação madura, com momentos de angústia, mas também com possibilidades de crescimento, mudança, de estar junto ao outro e o outro junto a nós. Parece que hoje esqueceu-se que quando éramos pequenininhos havia sofrimento, trabalho, mas também conquista e alegria. Não existe prazer prolongado sem nos envolvermos, sem nos implicarmos .... e isso, sem dúvida, dá trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário