domingo, 18 de setembro de 2011

Depressão

É muito sofrimento e um sofrimento solitário e de difícil  compreensão, tanto para o próprio que sofre como para os que estão a sua volta. Tive uma paciente, com um quadro depressivo moderado, que me descrevia pensamentos e sensações muito angustiantes, mas que não compartilhava com ninguém já que os achava tão estranhos que tinha receio de ouvir-se ou mesmo de ver o semblante confuso para quem contasse. É um isolamento característico no deprimido, ele sente e pensa "coisas" que parecem impossíveis de serem ditas e por isso sofre calado e perdido. Minha paciente em determinado momento de sua vida tomou uma decisão que viria a mudar muitos aspectos de sua vida. Na época ela sabia que era uma decisão muito importante, planejou, traçou metas e acreditou que tudo ocorreria próximo ao que imaginou. Mas não foi bem assim, muito diferente e sua vida foi modificada de uma maneira que não estava preparada, com perdas significativas. Foi sentindo-se triste, desamparada e sufocada por si mesma. Tinha insônias frequentes e nessas horas insones uma angústia de aniquilação tomava conta dela. Relatava-me que se sentia como no filme "Efeito borboleta", o qual nunca tinha assistido. Via as chamadas do filme e entendia que era  sobre uma pessoa que voltou ao seu passado para mudar algo, para ficar melhor, mas que ao fazer isso os efeitos foram devastadores. O personagem do filme insistia em tentar consertar isso, voltando novamente ao passado para modificar esse algo, mas as consequências  continuavam devastadoras, sempre piorando o que já estava ruim. Era como ela se sentia. Ao tomar aquela decisão que abrangia aspectos muito importante da sua vida, começou a acreditar que tomou uma decisão equivocada (como o personagem que voltou ao passado) e a partir disso qualquer ação ou atitude que tomasse só iria se desdobrar em algo pior do que estava vivendo. Essa sensação era tão autêntica, não era um pessimismo, era uma certeza. Vivia aterrorizada por si mesma, com medo, paralisou e sofria muito por isso. Queria sentir-se melhor, fazer alguma coisa, mas tinha medo de fazer porque qualquer coisa que fizesse tinha certeza que redundaria em algo pior. Para ela isso era uma certeza. Hoje ela está bem melhor, conseguiu tomar várias decisões que mudaram, mais uma vez, o rumo de sua vida. Ela lembra, de vez em quando, do efeito borboleta, essa sensação não a paralisa mais, mas era tão real que, até hoje, quando fala sobre isso, chora. Sentiu-se perto da aniquilação e foi muito assustador. A depressão é assim, a pessoa sofre muito, no começo, e quando o quadro se intensifica, piora, a pessoa  pára de sofrer, seu "espírito" se exaure e pára de viver. É a doença do vivente humano.

3 comentários:

  1. Fiquei agoniada com este relato.

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  2. Olá Patrícia,

    Minha intenção não era essa, mas não tem como. A depressão angustia e ao contar o relato a agústia está presente. Se não estivesse não seria depressão, seria outra coisa.

    Espero que você tenha boa semana.

    Abraços,
    Patrícia

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  3. Ai Patricia, desculpe se pareceu que eu não gostei do texto!

    Pelo contrário, você conseguiu transmitir tão bem os sentimentos da sua paciente que eu fiquei até agoniada!
    Você conseguiu transmitir, ao menos pra mim, uma sensação muito forte!


    E sim, o outro texto (da Pororoca) aliviou bastante!
    ;)

    Abraços!

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