sexta-feira, 20 de maio de 2011

Diagnósticos precoces: rótulos infantis


Em uma das aulas de psicologia abordei o tema transtorno bipolar com um filme. Depois que o filme acabou os alunos fizeram várias perguntas, uma delas foi a respeito da idade em que os sintomas podem surgir.  É uma pergunta muito difícil de ser respondida porque em crianças e adolescentes os diagnósticos psicopatológicos têm que ser muito, mas muito minuciosos, pois a criança pode apresentar comportamentos e emoções que são parte daquela fase de desenvolvimento e não necessariamente sintomas de alguma patologia. É um assunto que me preocupa muito quando atendo pais que trouxeram diagnósticos psiquiátricos de seus filhos embasados somente por comportamentos, cuja história de vida social e familiar não foi investigada. Todos nós, sãos ou não, em diversos momentos de nossas vidas podemos apresentar comportamentos bizarros ou reações exacerbadas frente a situações no cotidiano. Isso não quer dizer que estamos com alguma patologia, nem que vamos desenvolver uma, pode estar relacionado ao momento de vida. Se com adultos desenvolvidos, com profissões estabelecidas, famílias constituídas já existe uma tendência a medicalização imaginem em crianças e adolescentes que estão em fase de desenvolvimento. Tudo pode ser normal para aquele momento, mas também pode ser a denúncia de que algo não vai bem. A profunda investigação é fundamental. Recentemente li uma matéria em uma revista de psicologia abordando essa questão “O desafio do diagnóstico precoce”: dois professores da Universidade La Sapienza de Roma defendem que há quadros estreitamente ligados ao processo de crescimento. Colocam que: “em linhas gerais, para chegar a um diagnóstico adequado, o clínico deve avaliar os pontos fortes e vulneráveis tanto da criança quanto de sua família, investigando a capacidade de adaptação e atuação”.
dinâmica familiar
Usam da seguinte frase: “cada caso é único”. Na mesma revista li outro artigo sobre o caso de um agricultor que queria ser lobisomem (reportagem na íntegra). Só de ler o título já se imagina que o homem está completamente surtado, mas com o decorrer do artigo me surpreendi com a humanização com o qual o caso é tratado. Esse agricultor trabalha de sol a sol, mantém relacionamentos familiares e amorosos estáveis. Tem uma vida comum, com emoções comuns, excetuando quando em algumas noites diz sentir-se transformado em lobisomem e sente atração de uivar para a lua. Além disso o artigo deixa claro que na família esse comportamento não é repudiado, pois o pai não se importa e a mãe valoriza, acha que o filho tem um dom, ela é bastante mística.  Existe, na psiquiatria, um nome para o delírio em que o paciente se identifica com os animais: licantrópico. Mas pelo visto, M. de 38 anos, tem tal delírio, mas isso não quer dizer que não possa conviver em sociedade sem medicações e rótulos. Com as crianças é igual. Antes do rótulo escolar, da família criticar pais e mães pelos comportamentos das crianças e levá-los a especialistas para torná-los “normais” é preciso investigar, perguntar, escutar a criança. Existem sim, quadros de psicopatologias infantis que devem ser cuidados, é muito sério, mas muito cuidado é pouco. Segue o link de um vídeo que retrata a confusão de hoje com  rótulos psiquiátricos. Vejam, usem mais uns minutos para refletir sobre o reflexo dos diagnósticos precoces.

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